segunda-feira, 19 de novembro de 2007

PASSADO

Dia desses fui pro centro da cidade comprar um teclado novo. Enquanto esperava na fila do caixa, ouvia a som de uma quena. "El condor pasa". então, logo imaginei que fosse um daqueles grupos de pseudo-descendentes dos incas que se apresentam tocando flautas, quenas e cantando músicas fólcloricas dos Andes.

Saindo da loja fui dar uma volta pela praça e pela feira de artesanato. E lá estava um grupo de pseudo-descendentes de incas, dessa vez tocando "Tema de Lara"... Não prestei muita atenção a eles até que uma bela e conhecida voz masculina começasse a cantar "Poco a poco". Pra ter certeza que era quem eu estava pensando, fui conferir de perto. Lá estava ele: Com o mesmo violão, com a mesma voz de mais de 25 anos atrás...

Quando a música acabou, alguns aplaudiram, os músicos agradeceram e avisaram que fariam uma pausa. Algumas pessoas se aproximaram pra colocar uns trocados dentro da caixa do violão. Fiz o mesmo e disse ao dono da bela voz: " Aprendeu a falar o português ou ainda se enrola num portunhol?" Ele me olhou meio suspeito, e disse num português quase perfeito: " Eu me lembro de você... Maria?" Eu ri e respondi: "Grande coisa! Metade das brasileiras se chamam Maria!" e ele retrucou: "Mas eu só conheci uma Maria que pagou um almoço quando roubaram o dinheiro das gorjetas!" . E rimos ao relembrar aquele episódio... Há muitos anos atrás eu estava naquela mesma praça em horário de almoço assistindo a uma apresentação dos pseudo-incas quando um bando de pivetes roubaram a caixa do violão e todo o dinheiro que havia nela. Fiquei com pena deles e , conversa vai conversa vem, eles me disseram que haviam chegado por ali há pouco tempo, contaram uma história triste, eu custei pra entender aquela lingua enrolada e etc... Eu não acreditei em nada do que disseram porque sempre fui desconfiada mas, na dúvida, paguei o almoço dos 4 rapazes que se diziam famintos. E isso devia ser verdade porque eles comeram tudo em 5 minutos...

E todos os dias por mais ou menos um mês lá estavam eles. O nome do vocalista era Luiz e se dizia argentino (argh!!!!) mas tinha cara de colombiano. Mas, o que importava a nacionalidade?

E todos os dias lá estava eu fazendo a minha digestão enquanto assistia a apresentação. E o tal Luiz sempre vinha conversar comigo durante a pausa. Um dia, ele disse que aquela seria a última apresentação na cidade pois iam tocar em São Paulo; coisa que já deveriam ter feito muito antes... Fiquei meio triste... Mas, negócios são negócios... Então, ele me mandou escolher uma música. Qualquer música. Como presente. Pedi que tocasse e duvidei que o faria. Mas ele deu um sorriso, se levantou e tocou e cantou com perfeição... Aquela música chamou a atenção e em questão de segundos havia uma multidão pra ouvir... e no final, a caixa do violão estava bem recheada! Fui até ele agradeci e me despedi dele e dos outros rapazes. Nunca mais os vi, até dias atrás. Seus companheiros não eram mais os mesmos. Nem mesmo ele era mais o mesmo: Muitos cabelos brancos, um olhar mais triste... Até a voz parecia mais triste apesar de bela como da primeira vez que o ouvi. Então pensei o quanto os anos fazem diferença nas nossas vidas e a gente acaba nem percebendo... Só percebemos quando vemos fotografias antigos, filmes, músicas... Ou quando reencontramos pessoas de há tempos atrás... Lembramos que se o tempo passou pra um passou pra nós também...

Pedi pra ele tocar de novo aquela mesma canção... E de novo a multidão se juntou pra ver e ouvir... E de novo a caixa do violão se encheu... E dessa vez ele me pagou o almoço.

Segue ai o vídeo de Diamonds and Rust. Gosto da interpretação de Joan Baez.

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