segunda-feira, 27 de agosto de 2007

ARROGÂNCIA

Há uns 25 anos atrás eu tinha uma amiga que eu, do alto da minha arrogância, considerava simplória demais pro meu gosto. Era uma moça bonita: alta, magra, loira, belas curvas, e, ao meu ver, burra. Burra não porque não soubesse fazer contas ou falar direito, mas porque tinha ambições muito pequenas e sonhos tolos. Isso era o que eu pensava na época. O seu maior sonho era se casar (tinha um noivo que dizia amar profundamente), ter 3 filhos, e ser uma perfeita amélia: ficar em casa cuidando do lar, dos filhos, do marido e fazer crochê (aprendi a gostar de fazer crochê com ela).

Eu tinha sonhos e ambições muito maiores (e considerava-os mais importantes... afinal eu era muito inteligente...): queria ser jornalista.

Ela se casou. Eu me casei. E muitos anos se passaram. Fui revê-la uns 15 anos depois, por acaso (nem tanto) passeando pela rua com seu filho caçula.

Perguntei como ela estava. E ela me disse que estava bem. Tinha 4 filhos maravilhosos, havia aprendido outras modalidades de crochê, e ainda amava o marido tão profundamente quanto antes.

Não evitei uma pontinha de inveja: ela havia realizado seus sonhos e com vantagens: teve um filho a mais! eu... bem, eu... eu não. Eu não era jornalista, tinha tido apenas uma filha, e não amava mais o meu marido! Era uma amélia que se virava com bicos não apenas pra não parecer uma amélia mas porque precisava mesmo! (se bem que eu nunca levei muito jeito pra amélia genuína...).

Com minha arrogância, ousei um dia, classificar os sonhos e ambições de uma pessoa como sendo pequenos. Como se eu fosse alguém com capacidade para isso. E como se houvesse sonhos e ambições pequenos.

Mas, a vida, que descobri ser muuuito sábia, se encarregou de me colocar no meu lugar: aqui. Exatamente aqui, tendo experiências que há 25 anos atrás julgaria serem pequenas demais pra mim.

Estou aqui separada após 17 anos de um casamento frustrante (mas que também serviu pra me colocar no devido lugar); uma mãe esquizofrênica cuja responsabilidade divido com meu pai que esse ano completa 70 anos de idade (daqui uns anos talvez tenha que ser responsável por ele também); um irmão doente mental; e outras coisinhas.

Eu, que sonhava em ser jornalista, em ser uma redatora-chefe (rsrsrsr), hoje estou a aprendendo a costurar... Uma profissão simples. Tão simples que ainda não aprendi a colocar linha na máquina!

Hoje, humildemente, me rendo à vida e peço a ela mais uma chance. Chance para ter sonhos simples e então poder realizá-los. Sonhos que sejam apenas meus e que caibam dentro do meu coração.

Já fiz uma listinha dos meus novos sonhos. Mas esse é assunto pra um próximo post... Agora tenho que dar o rango pra mãe e pro irmão...

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