terça-feira, 18 de novembro de 2008

ACIMA DO BEM E DO MAL

Ontem foi um grande dia. Claro que,  digo "um grande dia" na falta de um termo mais adequado que, talvez, eu descubra ao final desse post. 

Estava eu lá, no fórum,  junto a minha advogada mais que perfeita. Sabe como é: ex-marido que quer diminuir pensão de filho e essas coisinhas que acontecem no dia-a-dia de uma mulher comum e, claro, ultra-moderna! Sim, porque, toda mulher moderna - mesmo que não seja ultra como eu - passará pelo menos uma vez na sua ultra-moderna-vidinha-complicada, pelos corredores de algum fórum qualquer. Isso é de lei! Pois então, lá estava eu com minha advogada. Conversamos algumas amenidades até que o juiz se dignasse a nos mandar chamar. E lá fomos nós quatro: ex-marido mais magro (era gorducho quando nos separamos), cabelo rareado espetado com gel, jaqueta imitação de couro, sorridente... (não ia se apresentar diante de mim chorando, né?); advogado de ex-marido, grandalhão, bonitão absolutamente seguro como deve ser todo advogado (mesmo que seja um péssimo advogado). O que me chamou a atenção no advogado dele foram os dois piercings em uma das orelhas! Não achei que advogados usassem piercings visíveis! Fiquei horrendamente surpresa! mas deixa isso pra lá... Eu, estava como sempre estou: de calça jeans, bota, camiseta e um casaco cinza e velho que adoro... tava frio, tava chovendo... Eu, representando a minha filha que, engraçadamente é a ré, e aqui devo falar uma coisinha: réu é uma criatua que está sendo acusado de algo - na minha concepção muito simplista das coisas - então, isso significa que meu ex-marido está acusando sua própria filha de receber uma pensão alimentícia muito alta... muito interessante... Bom, continuando: sentei-me em frente ao meu ex-marido (tem que ser assim!) e ao lado da minha advogada que por vezes sem conta fala coisas que eu não entendo mesmo quando ela não fala termos em latim. Minha advogada troca palavras cordiais com seu colega de profissão, pergunta da esposa dele (os advogados conhecem todos os outros advogados!) e amenidades bastante amenas para quebrar o gelo até a que o Juiz, por fim, adentre o recinto. Alguns seculares minutos depois, entra de maneira quase triunfal (porque ele não olhou pra nenhum de nós...) O Sr. Meretíssimo Juiz. 

Eu não vou descrever aqui tudo o que aconteceu porque é particular demais. Mas, durante a audiência, olhei o tempo todo para o Meretíssimo Juiz. Primeiro, porque queria entender tudo o que ele estava falando muito embora não tenha dirigido uma só palavra para mim. Segundo, porque não ia ficar olhando pro ex, nem pra nuca da minha advogada que estava meio de costas pra mim, também muito atenta ao Meretíssimo Juiz. Terceiro, porque se olhasse pra porta ou pro teto o Meretíssimo Juiz iria me achar uma retardada.... Bem, ao final da audiência, a única coisa que de fato entendi, é que haveria uma nova audiência em março do ano que vem... ou seja, nda ficou resolvido... Mas, claro, que eu não sairia dali ilesa! Não eu, uma mulher ultra-moderna e ultra ... sei lá o quê... só sei que devo ser mesmo muito, mas muuuuito ultra, mesmo! Ao sair, o Juiz olhou bem para mim e perguntou? "Porque a senhora está me encarando o tempo todo? Tem alguma pergunta a fazer??" então respondi: "Não, Senhor. Estava apenas prestando atenção ao que o senhor estava dizendo e tentando entender." Ele então se retirou e eu pensei: ele vai chamar os policias e me mandar algemar, e me mandar prender, e me mandar... e ... e... e eu não entendi nada!

Não me disseram que eu não podia olhar pro Juiz. Não me disseram que eu não podia tentar entender o que ele estava fazendo. Não me disseram que eu não podia prestar atenção numa coisa muuuito importante para mim. Não me disseram que aquele Juiz estava tão acima do bem e do mal que não podia nem ao menos ser olhado por uma representante de uma ré, ainda que tão ultra-moderna. 

Bem, lá fora, eu super nervosa, como uma mulher ultra-moderna deve ficar de vez em quando, estava dominada pela perplexidade. Comecei a falar umas bobagens pra minha advogada até que ela teve que me dar uma bronquinha camarada pra eu me acalmar... Ainda bem que sou ultra moderna e as minhas crises de histéria duram no máximo um minuto e meio... Quando estava mais calma perguntei pra minha advogada se tudo tinha corrido bem ou mal. Ela disse que correu tudo bem... Achei melhor acreditar porque caso contrário, minha próxima crise histérica ia durar muito mais que um minuto e meio... 

E, muito embora não tenha entendido nada do que o Meretíssimo disse, entendi que tem gente que ESTÁ acima do bem e do mal... Na prática, essa é a realidade... Não adianta belos discursos que falem de igualdade entre as pessoas, porque essa igualdade só existe mesmo na hora da morte, porque enquanto vivas, as pessoas não são iguais perante o Estado, perante as autoridades, perante as leis. A constituição do nosso país, é um livro com coisas muito bonitas escritas nele mas, nenhum de nós pode lê-lo e achar que aquilo tudo é verdade, porque não é. É um livro de utopias, belas utopias. 

Negro não é igual a branco. Pobre não é igual a rico. Homem não é igual a mulher. E por ai afora. 

Eu me senti naquele momento me estatelando na real.

Agora, em março de 2009, ainda estatelada na real, só vou olhar pro Juiz se no código penal e civil não houver nada, absolutamente nada escrito a respeito de olhar pro Juiz. Claro que até março não vou conseguir ler tudo! Mas vou contar com a ajuda da minha advogada que é muuuuito mais ultra-moderna que eu e entende algumas palavras em latim. Porque entre olhar pra nuca da minha advogada e olhar pro meu ex marido, prefiro olhar pro Juiz. 

Vou perguntar pra minha advogada se os códigos de leis permitem o uso de óculos escuros.


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